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Educadora da Escola relata experiência de Voluntariado em Lábrea

26/02/2019
Formação
Educadora Tamine Sául realizou voluntariado no período de 1º a 15 de fevereiro

De 1º a 15 de fevereiro, a experiência de voluntariado em Lábrea, no estado do Amazonas, pode ser vivenciada de perto por uma das educadoras da Escola Marista Santa Marta. Nesse período de quinze dias, a professora de Ciências, Tamine Sául, realizou atividades pedagógicas, pastorais e formativas com comunidades ribeirinhas, indígenas e crianças da Escola Estadual Santo Agostinho. 

Para tentar expressar e trazer um pouco dos momentos vivenciados, Tamine conversou conosco e relatou como foi estar próximo da comunidade local, seus desafios, principais momentos e como o voluntariado contribuiu para sua formação pessoal e profissional.

Como foi trabalhar e desenvolver atividades com as comunidades ribeirinhas e indígenas nesse período de voluntariado em Lábrea?

"Na verdade, as atividades com as comunidades ribeirinhas e indígenas no período que estive em Lábrea, foram muito mais relacionadas a vivência e a escuta com ambas, do que qualquer outra ideia. Ser presença Marista nas famílias, nas visitas às casas, nas comunidades do interior e o respeito pela natureza foram aprendizados e reflexões internas constantes. Entender que sua forma de vida/trabalho depende totalmente da natureza e do que ela oferece: pesca, colheita e roçado. Sentir a generosidade que eles tem uns pelos outros, o tempo que disponibilizam para viver uns com os outros, conversar, receber pessoas estranhas (nós, missionários) em suas casas foi magnífico. Mas a vida deles é muito sofrida, a falta de acesso ao saneamento básico, a água potável, a luz, a educação e a direitos básicos me impactou muito. Estar com eles, “no ritmo do rio”, me fez ver a vida e as relações com outros olhos e espero que isso traga contribuições pra minha vida pessoal e profissional, em especial, na realidade que atuo."

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Quais foram os principais desafios encontrados nessa experiência?

"Acredito que maior que perceber as dificuldades que eles vivenciam, as maiores dificuldades foram as inquietações internas a partir da reflexão das experiências vividas, bem como o sentimento de impotência em relação a muitas histórias. Trago comigo todas essas angústias e o questionamento constante do que estamos sendo no nosso dia a dia, em relação a nós mesmos e ao outro e, ainda, o que estamos nos tornando como humanidade."

Quais sentimentos e aprendizados conseguiste trazer no aspecto profissional e pessoal?

"Eu me senti plena, inteira, senti que consegui expressar quem realmente sou sem pensar em julgamentos, olhares e coisas supérfluas que vivenciamos no nosso dia a dia. O abraço de cada pessoa era refúgio de algo que desconheço, mas que parecia que eu vivi até aquele momento pra estar exatamente ali como se aquelas crianças e pessoas fossem desde sempre parte da minha vida. Aprendi a superar algumas limitações da minha personalidade, olhar o outro com mais amor e construir uma família com pessoas até então desconhecidas e que se tornaram família. Com lágrimas escorrendo pelo rosto, tenho certeza que enxerguei lá, o lado mais bonito da natureza e da humanidade e quando a gente alcança o extremo do nosso eu, a gente se encontra com Deus e tem ainda mais certeza da sua existência. Tudo isso eu trago na minha bagagem, com a certeza da missão cumprida, com o coração cheio de saudades e com anseios pra realidade em que atuo e, ainda, com o desejo de viver novas experiências que me tornem alguém melhor. A maior mudança que realizei foi em mim mesma."

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Possuí algum momento em especial que gostaria de relatar? Algo que tenha lhe marcado.

"Muitos foram os momentos especiais que vivi, difícil é expressá-los. Duas visitas que fiz na “Beira Mar”, me marcaram e emocionaram demais. A primeira delas fiz com um dos colegas voluntários. Visitamos uma senhora e ela nos recebeu muito bem, com um sorriso acolhedor e uma felicidade irradiante. Em um dos momentos que conversávamos com ela, após ela relatar o problema do filho, ela nos disse que não ia nos oferecer um café, porque a única coisa que ela tinha era a água. Entendi nesse momento o que era estar “sem palavras”. Voltamos nessa casa no último dia para nos despedir e levar um agrado e ela nos disse que “fomos mandados por Deus”. 

Outro senhor que me marcou muito, foi o fazedor de remos, um senhor já velhinho, muito simpático e humilde, com o qual conversei muito por várias vezes e até agora não sei explicar o vínculo que criei com este senhor, mas me emociono cada vez que lembro dele. Ainda, não poderia deixar de expressar a vivência Marista que enxerguei em Lábrea, não só dos dois irmãos incríveis que conheci e que se tornaram parte da minha vida por todo seu acolhimento, carinho e proteção, mas pelo papel social que desempenham nas comunidades e, também, das pessoas que mesmo sem um vínculo oficial são Maristas e nos acolheram tão bem como a Fraternidade em Porto Velho e ex-irmãos atuantes que conhecemos.

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Outro momento foi ao sobrevoar de táxi aéreo a grande extensão de floresta amazônica de Porto Velho a Lábrea. Nesse momento me questionei sobre a ação (des)humana através de desmatamentos, queimadas e destruição dessa biodiversidade imensa, mas em perigo. Como bióloga me emocionei pelo fato de estar sobrevoando um lugar que tanto falamos e "defendemos" na teoria e que faz parte de nossa província sul-amazônica."

Deixe um recado aos demais colaboradores da unidade que pensam em participar do Voluntariado.

"Existiu o medo, mas também um chamamento. Não sabia o que vivenciaria, quais as dificuldades e limites teria que superar e, por alguns momentos questionei minha capacidade psicológica e física e precisei acalmar minha família. Desacomodar, “tirar as sandálias” (Êxodo 3,1-10) poderia não ser fácil e eu estaria longe do meu berço, mas eu sempre soube do meu papel e do que eu queria. Sair da teoria, vivenciar na prática, "Estar com quem precisa e onde ninguém quer estar" é sentir que “Deus tem grandes coisas para você, abra seu coração”. Palavras não são capazes de expressar, é só indo pra ver e viver."

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Sobre o Projeto Lábrea

A iniciativa oportuniza a atuação junto a crianças, adolescentes, jovens e adultos da cidade amazonense, com o objetivo de proporcionar a transformação pessoal e social. O projeto responde aos apelos do XXII Capítulo Geral do Instituto Marista, que provoca todos a se disponibilizarem para além das fronteiras geográficas, sendo construtores de pontes e farol de esperança no mundo.

Além de fomentar a Cultura da Solidariedade, a proposta é estimular uma aproximação com os diversos contextos e realidades da Região Amazônica, cultivando um olhar de ternura e sensibilidade para com as diferentes populações que lá vivem.

Sobre o Voluntariado Marista 

Com cerca de 500 voluntários, a Rede Marista oportuniza iniciativas e experiências transformadoras nos âmbitos pessoal e social, nas quais os participantes entram em contato com distintas realidades, recebendo formação e acompanhamentos específicos. O serviço de voluntariado pode ser realizado em entidades cadastradas pela Associação do Voluntariado e da Solidariedade (Avesol) ou outra ONG, colaborando com a promoção da vida e na construção da Cultura da Solidariedade.